domingo, 1 de março de 2015

Velhos novos e novos velhos


O ser cinquentona, não me incomoda, o que me aborrece verdadeiramente é perceber que a maior parte das pessoas considera que eu sou realmente uma velha, tentando parecer nova na maneira de vestir e de falar. E como eu tantas cinquentonas, sextagenarias. Idiotice total.
Uma mulher de 50 anos é só uma mulher de 50 anos. Eu sinto o preconceito da idade em várias áreas, a atitude correcta é ignorar e dar a conhecer-me!
Eu sou uma cinquentona é a realidade, mas acima disso sou uma mulher com a força que qualquer mulher tem e que vira leoa se a acossarem muito. Tenho altos e baixos como todo o ser humano. Aprendi a ouvir mais e a ver melhor, não consigo deixar de ser impulsiva, para isso precisava de outros 50… a maturidade aprende-se sem perder a juventude.
Interesso-me por tudo o que acontece no mundo, tenho as minhas causas, sou feminista qb, mas sobretudo quando há abuso de autoridade masculina. Gosto de todo o tipo de arte, adoro ler, leio um livro por semana( é uma meta),acho que a literatura nos ensina tudo o que não vivenciamos, adoro pintura, não conheço tanta pintura moderna como gostaria, mas procuro ter acesso a ela. Mas os impressionistas continuam a ser os meus eleitos. Não vivo sem música, estou sempre a ouvir as músicas de toda a minha vida e sempre actualizar o IPod com outras novas. O cinema é um dos meus passatempos preferidos. Viajar, isso sim é viver, não importa a idade que se tenha. Viajar com o meu namorado, descobrir juntos novos lugares ou viajar com amigos e divertirmo-nos em locais desconhecidos, são memórias para a vida.
 Mas claro que todos os gostos são subjectivos, mas não podem nunca é ser de mau gosto!
Gosto muito de ser mulher, engraçado nem em miúda me passou pela cabeça ser homem. Aos seis anos queria ser bailarina, andava sempre a dançar no meu quintal. Confesso nunca fui boa dançarina, mas gosto muito. Sou super feminina, isso não muda com a idade, porque a cabeça não muda ( talvez aos 90…), adoro trapos, moda, sapatos, perfumes, maquilhagem. Mas isso não faz de mim uma mulher fútil. Nunca concordei com a ideia de que para ser cativante, tinha que ter rastas no cabelo e buço. 


Não somos nem nunca seremos estrelas de cinema, mas somos nós próprias e devemos ter o respeito de nos arranjarmos minimamente para nos sentirmos bem. Não há aqueles dias em que nos achamos tão bem que acreditamos que vamos arrasar o mundo?
No sexo não há diferenças com a idade, no início da paixão, a loucura é maior, ninguém quer sair do quarto, nem para pedir pizza, depois acalma mais toda a gente sabe mas é mais criativo. Mas existe paixão e amor. Não pode acabar, senão não estamos vivos.
Mas felizmente a grande maior parte do tempo nem me lembro da idade e continuo como sempre a ser brincalhona, palhaça e a dar gargalhadas bem alto, porque adoro rir. 
Como diria a Clarice Lispector “Ser bobo é uma criatividade e, como toda a criação é difícil. Por isso é que os espertos não podem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida”.
Eu sei que é fácil deixar-se envelhecer, com a vida a correr tão rápida, escola, trabalho, maridos, casamentos, divórcios, filhos. Mas agora aos 50 anos temos mais tempo para nós, é sempre bom aprender coisas novas, não nos deixarmos arrastar pelo marasmo. A força da mulher está na sua capacidade de transformação, de começar de novo. Sempre!
Há tantos jovens velhos, que entram cedo na engrenagem a que chamam vida, trabalho, casamento, filhos, futebol, cerveja e amigos. Nada contra se não for só isso. Há que criar interesses, tentar aprender sempre, não ligar à vizinha do lado, olhar-se no espelho e pensar que quero ser uma mulher interessante, boa pessoa, gira, divertida. Senão sim, essas jovens vão perder o encanto cedo, porque a beleza tem que ser apoiada pelo intelecto, temos que ser donas de nós próprias, só assim podemos crescer bem e ficar antigas, com o devido valor de uma antiguidade.
Ser mulher é não ter idade, para mim entre tantas coisas boas, é ver as minhas filhas e comover-me só de as olhar, e pensar que grandes mulheres. Ouvir a gargalhada da minha filha mais nova e rir porque ela tem um riso tão contagiante. Ouvir a mais velha falar e aprender algo de novo. Ser mulher e mãe é ter sempre este amor incondicional que nos afaga a alma.

Tenho 58 anos e sou uma mulher absoluta.

Sem comentários:

Enviar um comentário