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Boyhood |
A minha filha caçula, como dizem os brasileiros,
diz-me no tom doce dos seus 26 anos:
sabes mãe, acho que estamos a crescer as duas
ao mesmo tempo.
Rimo-nos.
Tem razão, estou a ficar adulta. Não é
fácil aos 58 anos crescer, enfrentar o mundo e perceber que todas as pessoas são boas e más quando é preciso. Incluindo eu também.
Sempre confiei imenso em toda a gente e
passei pela vida satisfeita e contente. Não pateta alegre, porque é claro que
me aconteceram situações desagradáveis e dolorosas, a pior de todas, a morte do
meu pai, que era o meu herói. O meu divórcio, não porque eu não o quisesse, mas
é sempre complicado. Empregos, desempregos, amores e desamores. Uma vida vivida
até ao tutano, mas acreditando sempre que o dia seguinte estava para vir e que
o ser humano valia a pena. Costumo pensar que passava-me tudo ao lado, nem me
tocava.
Feliz inconsciência.
Ainda acho que o ser humano vale a pena,
alguns valem, outros nem por isso.
Fiquei mais desconfiada, menos alegre,
mais fechada. Não posso partilhar como gostaria porque não me entendem. Sempre
soube que onde se trabalha não se faz amigos mas colegas. Mas eu sempre fiz
amigos, e acreditava ser possível, as coisas mudaram? Eu mudei? As pessoas
mudaram?
Agora o espaço parece Bronx, funciona
por gangues, quem manda aonde?
Talvez eu esteja a crescer e veja tudo
mais nítido. Passei a andar sempre de óculos.
E aos 50 anos ver problemas de mesquinhez que nada tem a ver com o trabalho é triste!
Eu tenho um bocado de mau feitio, tenho
dificuldade em suportar a ignorância de quem não faz um esforço para o não ser,
de quem passa o tempo a ver reality shows, a ouvir musica pimba. Sem viver o
seu tempo. Sem interesse em saber como vai o mundo, que há guerra na Ucrânia não,
não é longe, é mesmo aqui, na Europa. Que os Gregos como nós também fizeram
porcaria, também usaram e abusaram do dinheiro da EU, que não são nenhuns
santos. Mas acordaram e perceberam que só a pagar juros eternamente e sem investimento
um País não cresce, arregaçaram as mangas, tiraram as gravatas foram à luta e
conseguiram. São 4 meses à “experiência”, mas aí estão. Mas a quem é que isso
interessa?…
Tenham curiosidade pelo mundo em que vivemos.
O que interessa mesmo é aparentar ter
poder num emprego, num local com 12 pessoas?Esconder, mentir… “tipo gangues
de Bronx, dividir para ganhar”. Só de pensar nisto fico desanimada confesso. Sempre
gostei de dizer o que penso, agora calo-me. Tive medo de perder o emprego. Já não tenho. Não
sou de me influenciar, posso ter sido conivente, mas quando fica tudo surreal,
não aguento mais.
Saio fora.
E agora voltei com a determinação de
nunca mais deixar de ser eu própria, trabalho é trabalho.
Mas crescer dói.
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